Te espero num ciclo infinito. De solitude. Enquanto o mundo a minha volta se comunica através de corpos solitários com almas barulhentas. Aos poucos me fixo nas letras que seguem aceleradas, alinhadas uma após a outra tentando compor em fluxo um pensamento que me é mais rápido do que posso escrever. Te espero ainda. Mesmo sabendo que você não vem. As cores vibrantes tilintam enquanto a noite na cidade me engole num amargo, ainda que refrescante, sopro de realidade. Você não vem. E não se importou o suficiente para sequer avisar. Começo a estremecer os sentidos e a confusão se simplifica num ato nobre de aceitação. Te busco em outros rostos. Pauso. Nenhum olhar é igual ao seu. Nenhuma vida é tão interessante quanto a sua. Se não a fantasia, o que me manteria, assim, tão perto de ti? Aguardo o dia em que decidirei escrever sobre você. “Se você pretende, saber quem eu sou…” ecoou no que um súbito silêncio desse subsolo mundano. Onde as aparências não enganam. Irmãos da, hoje, velha guarda…. Pensando bem imagino essa fala saindo de dentro dos seus pulmões e ecoando — descobri que Eco usa-se no masculino mas é feminina, ela foi quem alertou Narciso — na voz rouca e quase falha que preenche seus lábios macios. Macios e ao mesmo tempo tão cruéis comigo, pois quiseram deixar ecoando um beijo finito. Rápido. Simples. Sem vida. Ecoando… como disse, Eco alertou Narciso, reproduziu suas falas através do reflexo n’água. Finito. Essa palavra sempre me pareceu mais certa do que “nós”. Parece mesmo que a gente deu um nó. Embolou que não desembola. Nem desenrola. Desde o dia um sempre foi um fim antes mesmo que acontecesse. Nunca fomos dois. Só você. E eu. Ali. Finita.
Tudo desalinhou. Desorbitou. Desde o momento em que meu planeta orbitou o teu.

25 de Outubro de 2024 | 20:50
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